Ao tirarem-no da cruz,
eu, centurião, tomei-o eu
meus braços.
O corpo rijo e esguio
de um homem já maduro,
sem barba, sem fôlego –
Mas bem-dotado.
Ainda estava quente.
Enquanto preparavam a
cripta,
tomei guarda de seu
corpo.
Sua Mãe e Madalena
foram buscar linho limpo
para amortalhar sua
nudez.
Fiquei a sós com ele.
Pela última vez
beijei sua boca. Minha
língua
na dele, amarga de morte.
Beijei sua ferida –
O sangue era acre.
Pela última vez
beijei a ponta de
seu longo falo,
instrumento
da salvação, nossa eterna
glória.
O pau ainda ereto, ungido
com a ejaculação final da
morte.
Sabia que ele amou outros
homens –
Os guardas de Herodes,
Pôncio Pilates,
João O Batista, Paulo de
Tarso,
O traiçoeiro Judas, boca
deliciosa, e com
o resto dos Doze, todos
juntos e também cada um à parte.
Amou a todos os homens:
corpo, alma e espírito – inclusive a mim.
Só sei dizer assim o nome
de nosso amor,
minha longa devoção, meu
desejo, meu temor –
Nunca havíamos falado
sobre isso. Minha lança, molhada de sangue,
seu corpo batido, ferido,
rasgado,
e em cada ferida,
costelas, lombo,
boca – gozei e gozei e
gozei.
Como se cada jato fosse meu
último.
E o milagre nos possuiu.
Senti que Ele me
penetrava, e jorrava feroz
a semente final de seu
espírito em meu cu-alma,
pulso sobre pulso, até as
bordas da terra –
crucificou-me consigo em
Nosso reino.
– Eis a abençoada,
apaixonada crucificação.
Amamos nossos iguais,
sofremos pacientemente.
Nos infligimos esses
castigos de amor e gozo e graça,
um sobre o outro, até
morrermos de dor e tara
nos braços paradisíacos
uns dos outros,
clamando à eternidade num
orgasmo derradeiro.
E nos deitamos,
entrelaçados, esperando
a ressurreição, como
fizemos, em verdes vales.
Mas os guardas vieram e
me tiraram dali.
Não sabiam o que fizemos,
e nem sentiam
culpa ou raiva. Aliás,
estavam felizes por nós,
nos abençoaram, como ele
faria,
Ele, que amou a todos os
homens.
Após três dias, eternos,
solitários,
em que sofri com meu luto,
buscando-o nos jardins,
meu amigo que sei foi
acordou de seu sono na
aurora, e se mostrou a mim
antes de todos os outros.
E me levou consigo
Junto ao amor que agora
ousa, para sempre, dizer seu nome.
(transmutado de The love that dares to speak its name, de James Kirkup, publicado em 1976. Sofreu polêmica, mesmo sendo um poema muito narrativo e pouco sofisticado)