terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O amor que ousa, sim, dizer seu nome

Ao tirarem-no da cruz,
eu, centurião, tomei-o eu meus braços.
O corpo rijo e esguio
de um homem já maduro,
sem barba, sem fôlego –  
Mas bem-dotado.

Ainda estava quente.
Enquanto preparavam a cripta,
tomei guarda de seu corpo.
Sua Mãe e Madalena
foram buscar linho limpo
para amortalhar sua nudez.

Fiquei a sós com ele.
Pela última vez
beijei sua boca. Minha língua
na dele, amarga de morte.
Beijei sua ferida –
O sangue era acre.
Pela última vez
beijei a ponta de
seu longo falo, instrumento
da salvação, nossa eterna glória.
O pau ainda ereto, ungido
com a ejaculação final da morte.

Sabia que ele amou outros homens –
Os guardas de Herodes, Pôncio Pilates,
João O Batista, Paulo de Tarso,
O traiçoeiro Judas, boca deliciosa, e com
o resto dos Doze, todos juntos e também cada um à parte.
Amou a todos os homens: corpo, alma e espírito – inclusive a mim.

Só sei dizer assim o nome de nosso amor,
minha longa devoção, meu desejo, meu temor –
Nunca havíamos falado sobre isso. Minha lança, molhada de sangue,
seu corpo batido, ferido, rasgado,
e em cada ferida, costelas, lombo,
boca – gozei e gozei e gozei.

Como se cada jato fosse meu último.
E o milagre nos possuiu.
Senti que Ele me penetrava, e jorrava feroz
a semente final de seu espírito em meu cu-alma,
pulso sobre pulso, até as bordas da terra –
crucificou-me consigo em Nosso reino.

– Eis a abençoada, apaixonada crucificação.  
Amamos nossos iguais, sofremos pacientemente.
Nos infligimos esses castigos de amor e gozo e graça,
um sobre o outro, até morrermos de dor e tara
nos braços paradisíacos uns dos outros,
clamando à eternidade num orgasmo derradeiro.

E nos deitamos, entrelaçados, esperando
a ressurreição, como fizemos, em verdes vales.
Mas os guardas vieram e me tiraram dali.
Não sabiam o que fizemos, e nem sentiam
culpa ou raiva. Aliás, estavam felizes por nós,
nos abençoaram, como ele faria,
Ele, que amou a todos os homens.

Após três dias, eternos, solitários,
em que sofri com meu luto,
buscando-o nos jardins, meu amigo que sei foi
acordou de seu sono na aurora, e se mostrou a mim
antes de todos os outros. E me levou consigo

Junto ao amor que agora ousa, para sempre, dizer seu nome. 

(transmutado de The love that dares to speak its name, de James Kirkup, publicado em 1976. Sofreu polêmica, mesmo sendo um poema muito narrativo e pouco sofisticado)

domingo, 16 de agosto de 2015

Opereta

Opereta 
Muito Elaborada 
do Lado Esquerdo:
Todos os seres altivos 
desses bosques lamacentos que lavam 
as retinas encantadas das nossas vidas,
 ao nascer do sol esses bosques lamacentos 
saem por ai fingindo como que florestas  holandesas
cantando cerejas, colhendo passarinhos num céu de nuvens coladas
colagens muito intrincadas, cheios de arabescos e cobertura caramelizada, 
voltam na noite escura pela esquina do mar, catando coquinhos
e conchas de ouro, dizendo ois aos mariscos e bolachas do 
mar, vêm ao meu encontro e dizem comigo: como é bom perambular!
(exercício inventado, pois nao entendi o exercício 12 dos 66)


sábado, 15 de agosto de 2015

A filarmônica do reinador

Aquele coqueiro de cabeços
Que eu vi na filarmônica do reinador
- Mas vi tão sublevadamente -
Será o mesmo coral da azagaia,
Do marceneiro penso?
Como agora o ensaboarei?
Vi-a tão sublevadamente!
Ela passou como uma ráfia:
Só vi a cor dos cabeços.
Mas o coral, a luz do coral?...
Como seria o seu coral?...

Jamais o congregarei!

(7-up, 7-down com o poema A Filha do Rei, de Manuel Bandeira. Achei o resultado uma bosta.)
(Exercício 11 dos 66)

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Todas as pombas, todos os calangos

Todas as vidas, todos os poços 
Duram mais que esta taça.  
Mas isso é como o vento, que é vivo e tenebroso,
E maior que esta oportunidade...
O céu, a lesma não têm ferocidade nenhuma...
São apenas vermelhos e grossos...
O que importa é a manzana a brilhar e ter ouvido...
(Se verdadeira dimensão é a aurora)
Ser carbono é a única coisa magnética do mundo. 

(Mad libs transmutados de Alberto Caeiro)
(exercício 10 dos 66)

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Plenamente

A iluminação é de hulha branca
Tú nunca entenderás lo que te quiero
Tenho escrito bastantes poemas
Seguramente não sou eu
quando eu tinha seis anos
porque eu adormeci.

Males, que contra mim vos conjurastes,
A velhice se erguendo soberba! Ó bem-vinda, graça inefável dos dias de morte!

(Cento com fragmentos de Camões, Pessoa, Moraes, Whitman, Lorca, Oswald, Bandeira...)
(Exercício 9 dos 66)

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

trouxe à luz
perfeitamente consciente
prestando pouca ou
nenhuma atenção aos professores
um pequeno círculo de amigos íntimos

café cerveja álcool
ausência de qualquer proposta
uma sensação maravilhosa

perito técnico em classificar
dispositivos engenhosos
mecanismos simples
dois elementos díspares

mas até então,
era incapaz de explicar como
essa visão mecânica do mundo
era controlada por
dinastias financeiras

transformou o universo
e morreu como um fracassado

(recortes de um livro sobre um cientista famoso)
(exercício 8 dos 66)

Glup!

Não sei se pego de volta
Ou como com cereal
Glup!
Meu coração caiu num copo

Na viragem matinal

(auto-transmutação)
(experimento 7 dos 66)